quarta-feira, 7 de julho de 2010

Diário de leitura de O Médico e o Monstro

O MÉDICO E O MONSTRO

Quando comecei a leitura de O médico e o monstro tinha algumas expectativas, por tudo que já havia ouvi falar do livro. Sabia que se tratava da transformação de um homem comum em um monstro, mas o que realmente motivava minha leitura era saber como isso aconteceria, entender por que este livro é considerado um clássico. Por que continua motivando inúmeras adaptações no cinema, no teatro e servindo de inspiração para outros livros, para quadrinhos etc?

Tentei ler o livro algumas vezes, mas sempre fui interrompida, por isso, o que deveria ter começado no mês passado só inicie hoje 06/07/10.

Li o livro em único dia, sendo assim minha análise será de todo o livro, não apenas de alguns capítulos, não consegui para de lê-lo...

A história tem poucos personagens Mr. Utterson, Mr. Enfield, Hyde, Dr. Jekyll, Dr. Lanyon, Poole e outros que aparecem poucas vezes como Sir Danver Carew, outro empregado de Jekyll Bradshaw, Mr. Guest o grafologista e outros com pouca expressão.

Achei a princípio que a história perderia o mistério porque eu já conhecia o final, mas este é mantido através da forma de escrita de Stevenson a forma de descrever lugares, personagens, situações e até estado de espírito

Vejamos alguns exemplos:

Aos descrever Hyde “era pálido e nanico. Dava a impressão de uma deformidade sem ter nenhum defeito aparente. O sorriso era desagradável... Aquele homem não parece humano... Se um dia eu li a assinatura de Satã num rosto foi no seu novo amigo. Pg.17”


O Dr. Jekyll “homem de cinqüenta anos, rosto liso, grande, com uma expressão um pouco maliciosa, mas com todos os sinais de argúcia e bondade... pg.20”

A casa do Monstro “Chegando ao endereço indicado, o nevoeiro começara a subir e mostrava uma rua suja, com um bar popular, um restaurante francês ordinário, uma loja que vendia miudezas e verduras não muito frescas, crianças maltrapilhas amontoadas às portas das casas e mulheres de diferentes nacionalidades indo, chaves nas mãos, para o primeiro trago matinal. Logo após, a névoa marrom baixou novamente, isolando a vizinhança a casa do favorito de Henry Jekyll, o homem que herdaria uma fortuna. Pg.26”

Quando o autor descreve o estado de Dr. Lanyon Robert Louis ele vai descrendo a mudança física e sua angústia “Como o médico estava mudado! A sentença de morte impressa na testa. O homem de faces rosadas tornara-se pálido, emagrecera, ficara mais calvo e mais velho. E o que impressionava mesmo, além da decadência física, era a expressão, atestando um estado de espírito de grande terror... pg.35”

Como narra a ida de Utterson à casa de Dr. Jekyll “Utterson pegou o seu atiçador de fogo e saiu, seguido pelo mordomo. A lua estava coberta por um véu de nuvens movediças e a noite, escura. O vento, soprando sobre o poço profundo em que se transformara o pátio, fez dançar a chama da vela até eles se abrigarem no anfiteatro, onde calados, se sentaram, à espera. O murmúrio de Londres, ao longe. Ali dentro, o silencio era rompido apenas pelo som dos passos que se moviam de um lado para o outro no gabinete.” pg.48.

Para nós leitores do século XXI a narração de Stevenson pode parecer comum, mas não podemos nos esquecer que a obrada data de 1886, essa forma de narração detalhista que funciona como uma espécie de câmera é uma característica do realismo, “escola” literária da época, o que mostra que mesmo sendo um livro popular, na época, portanto não sendo ligado ao cânone literário como Gustave Flaubert, na frança, George Eliot, na Inglaterra, Eça de Queiroz, em Portugal, o autor estava em sintonia com seu tempo.

Voltando ao livro, os adjetivos usados pelo autor para caracterizar os personagens também são bem interessantes, como insano e bestial, creio que a para leitores iniciantes pode parecer difícil algumas palavras, mas não impedi o prazer em ler a história e ajuda este leitor a criar um repertório novo de palavras, a compreender leituras mais complexas, as quais surgirão ao longo de sua vida escolar e mesmo acadêmica. Outros exemplos: depravação, ordinariamente, alusão, crepitava, diáfana entre outras.

O último capítulo são as reflexões de Henry Jekyll sobre o que o motivou a criar o monstro a relação que o mesmo tem com a sociedade em que está inserido. Os conflitos pessoais causados pela necessidade de ser aceito na sociedade, nos obriga a agirmos, muitas vezes, de forma diferente do que desejamos, porém, precisamos para conviver. Não podemos fazer tudo que desejamos somos impostos por leis e/ou por acordos sociais a termos um comportamento regrado, se fugirmos destes não somos aceitos. Não podemos, em todas as situações, falarmos e agirmos como pensamos, por exemplo, batermos em alguém que muito nos irritou, se o fazemos temos que respondermos por esse ato.

Neste capítulo Dr. Jekyll narra em uma carta todo seu trabalho e pesquisa dos últimos anos onde explicita ainda um tema importante relacionado à moral e à sociedade: o bem e o mal convivem dentro de cada ser humano. Mr. Hyde não ganha vida pela ingestão da beberagem, e sim é libertado do interior de Jekill, onde já vivia, embora reprimido.

Em minhas pesquisas achei uma excelente análise sobre este capítulo, infelizmente não tem o nome do autor: “Segundo as teorias de Dr. Jekyll, o homem, na verdade, não é apenas um, mas dois. Todo ser humano é dotado de duas naturezas completamente opostas equilibradas de acordo com sua saúde mental. Uma é boa, aquela que traz admiração das pessoas, compaixão dos mais velhos, elogios dos amigos e da esposa ou namorada; outra é má, aquela que é violenta, agressiva, mal-educada, feia e temida por todos. Quando bem distribuídas, com pequenas alternâncias de estado, o homem pode ser considerado normal, mas há os casos em que uma natureza se sobrepõe a outra, tentando se libertar. O problema torna-se grave quando quem alcança a liberdade é o lado negativo, gerando as fatalidades que estamos acostumados a presenciar nos noticiários.”[1]

Autora do texto: Professora Eliane